terça-feira, 16 de novembro de 2010

Do Estado Social ao Estado Fraternal

Do Estado Social ao Estado Fraternal




(Artigo publicado na Revista Jesus Vivo, edição de Novembro/ Dezembro 2010)




Verdadeiramente, é como dizia Santo Agostinho: “A imaginação é a louca da casa”.

Vivemos em tempos de grande excitação mnésica! Quando bem orientada, a imaginação criadora lança-se na construção de saberes, que, traduzidos em ciência, permitem a técnica criadora do conforto humano. Porém, a imaginação criadora, se desponta em gente dada a delírios mentais, tece jogos de perigosas fantasias ilusórias. Na política, estes jogos são desastrosos! São capazes de ofuscar a visão de multidões.

E é precisamente o que se tem passado no campo da política: delírios de sonhadores, acordados e apetrechados da arte do manejo das palavras, têm inventado termos – mitos cheios de magia - que, lançados abaixo dos púlpitos políticos, embevecem e seduzem, arrebatando no mesmo delírio sonhador os cidadãos mais distraídos! Passam estes a deixarem-se arrastar na fantasia do sonho de uma vida de oiro!

Dos sonhadores da fantasia política surge a criação do termo “Estado Social.” Esta fantasia vem ocupar o lugar da fantasia anterior, já fracassada - Estado "socialista"! Esta não pegou, porque queriam que todos fossem iguais, mas não conseguiram. Porque, efectivamente, somos todos iguais e diferentes e porque, por distracção quase imperdoável, o dinheiro escapou-se sempre mais para o bolso de uns do que para o de outros.

Mas, o "Estado Social" não pegou também! Pior ainda! Mais o dinheiro fugiu para o bolso de uma minoria, aumentando a maioria dos que ficaram e ficarão com os pés "descalços" e o estômago vazio! Bem falam os políticos e comentadores de "Estado Social". Mas isto o que é, afinal, se não artifício linguístico? Querem combater as desigualdades sociais, retirando dinheiro a todos? Se o fizessem aos ricos, acreditaríamos que beneficiassem os pobres, estando a caminho do "Estado Social"! Mas, castigando todos com impostos, ou beneficiando todos com mais valias, os ricos são de cada vez mais ricos e os pobres são de cada vez mais pobres. E a classe média passa a pobre!

É esta a situação que está criada pelas medidas usadas para alcançar o tal "Estado Social", num ano em que se pretendia lutar contra a pobreza e a exclusão social! Que diferença faz aos ricos um Iva maior um pouco, em relação aos pobres? Aos pobres é que o menor corte financeiro é golpe profundo!

Teremos de concluir que o projecto do "Estado Social" falhou, como falham todos os projectos que não brotarem da preocupação séria e objectiva da igualdade em dignidade da pessoa humana. Teremos de defender, isso sim, um Estado Personalista que tenha um objecto que não números ou euros...

Entretanto, “é a hora de despertarmos do sono” (Rm 13, 11), com diz S. Paulo. “Mais vale fiar-se em Deus do que nos homens”, no dizer do salmista (Sl 118, 8). Deus, que criou o mundo, se O deixarem orientá-lo, Ele levá-lo-á ao seu fim feliz.

“Todo o homem é meu irmão”, para nós, que acreditamos em Deus. Então, devemos sofrer com a mentira da governação fora de Deus, que tais efeitos produz na opressão dos nossos irmãos mais pobres! Não vamos deixar acabar o ano dedicado à irradicação da pobreza e da exclusão social apresentando a Deus este mesmo mundo ainda mais pobre e mais excluído. Não vamos deixar terminar o ano sem fazermos algo pelos que estão ao nosso lado na situação de pobreza. Saberemos quais são? Muitos deles escondem a sua inesperada exclusão! Vamos descobri-los, desde já! Durante o próximo Tempo de Advento, que começará em finais de Novembro, passaremos a preparar com eles um Natal fraterno. O momento exige a criação de um Estado Fraternal!

Vamos ser nós, cidadãos cristãos, a mostrar o caminho que os políticos devem seguir: criar e repartir bens, para que ninguém passe fome. “Todo o homem é meu irmão”, porque Jesus Cristo o conseguiu, para nossa dignidade! Ele mesmo Se tornou irmão de todos, fazendo-nos filhos do mesmo Pai - Deus!

Mãos à obra, para que, por um Advento fraterno, cheguemos à celebração da verdade do Natal: instaurar a fraternidade no mundo! Vamos fazer a nossa parte!




Hercília Pinto (Comunidade Cristo de Betânea)

Novembro de 2010




Também publicado em facebook.com/cristobetanea.net

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